quarta-feira, 11 de novembro de 2009

El regalo






Lição de hoje: "Partir é bom, transitar é fantástico, mas retornar também tem seu encanto..."

Frase do dia: "Hoje vai ser um passeio!" (A)

Em Castillo, o clima já era de missão cumprida. Sem muita preocupação com dormir cedo, ou com horário de partida, fui até tarde lutando contra o pc para postar o relato do dia anterior... Internet lenta, teclado terrível, fotos que levavam zilhões de anos para serem anexadas... Mas tudo bem!

O Alex pretendia dormir até quando o corpo pedisse, mas meu lado metódico não permitiu: "Nada disso, vamos acordar lá pelas 8, não quero sair muito tarde!". As 7 horas, eu estava acordada, e fiquei esperando a parceria...rs...

O café foi espartano: medialunas e café preto! Ainda bem que eu havia comprado umas frutas, no dia anterior, não vivo sem vegetais in natura! rsrs... Calmamente, tomamos o café, depois arrumamos as coisas e partimos, por volta das 9h30min.

A estimativa era de percorrer entre 70 e 80 km, um nadinha (rs), o único trecho menor de 100 km... Logo na saída da cidade, o Alex disse: "Vai ser um passeio!" E foi!

O dia estava simplesmente maravilhoso, um verdadeiro regalo para o último dia de viagem. Temperatura super-amena, até passei frio por uns bons quilômetros, e um sol que deixava o céu com um azul intenso.

Tendo pouco a percorrer, meu lado fotomaníaca falou mais alto: a cada paisagem interessante, eu parava para o registro. Realmente adoro fotografia, pena que numa viagem dessas não dá para levar uma máquina maior...rsrs... Ainda assim, algumas imagens ficaram bem legais!

O trajeto voltou a ser super-plano, mais até que no dia anterior (onde as ondulações já haviam diminuido muito). Um retão sem fim, que dá a estranha sensação de não saber se você está realmente no plano, ou subindo, ou descendo levemente...rsrs... O vento tinha diminuído muito, e estava contra, mas não representou obstáculo, o pedal fluia em velocidade boa, mas não exagerada... O negócio era curtir o trajeto, sem muita preocupação com a chegada.

Eu pretendia entrar em Punta Diablo, uma praia bem legal, mas quando passamos pelo trevo, vimos que haviam terminado, há pouco, de colocar asfalto, e a estrada estava, toda, coberta de britas, o que dificultaria muito pedalar até lá. Assim, desistimos e seguimos adiante.

As emas, que se haviam apresentado nos primeiros dias, na região mais plana a oeste, pampa, voltaram à paisagem no pampa leste: lá estavam elas, em bandos, coisa que já é difícil de ver por aqui... E muitos coqueiros, perdidos no pasto, com cavalos correndo, formavam um quadro bucólico...

Havia, também, muito gado, mas isso aconteceu ao longo de toda a viagem. E uma coisa muito peculiar, a seu respeito, era o interesse que os animais demonstravam pelas bicicletas... Normalmente, quando se passa de carro por um rebanho, não há nenhuma alteração: continuam eles em sua posição habitual, cabeças baixas, a pastar. Mas, passando de bike, todos, mas realmente todos, levantavam e ficavam nos observando!

Ver o mundo passar lentamente nos dá outra percepção da paisagem...

No quilômetro 44, chegamos ao Parque Santa Teresa, onde fica o Forte Santa Teresa. O lugar é realmente fantástico, há uma série de trilhas que levam a zonas de camping, de piquenique, um pequeno zoológico e praias. Aquela altura, o pedal sob os coqueiros e outras árvores (um verdadeiro bosque) foi muito bom, garantia uma sombrinha praticamente inexistente em todo o restante do trajeto (assim é o pampa, vocês sabem... nada de grandes árvores!). Circulamos calmemente pelo parque e paramos na Playa La Moza, em um mirante que ficava entre duas enseadas... Um lugar fantástico para nossa super-refeição: torradinhas, castanhas, passas e suco! rsrsrsrsr... Foi, certamente, o melhor almoço da viagem!

Alimentados, seguimos em busca do Forte Santa Teresa, que nos aguardava no alto de uma pequena colina próxima. Tanto espanhóis como portugueses sabiam bem onde construir suas fortificações: a vista é sempre muito privilegiada! E o Santa Teresa não foge à regra.

Foi muito bonito chegar, vendo o contraste entre o ocre dourado da antiga construção, o verde da vegetação e o azul intenso do céu. Paisagem para não ser esquecida!

Visita feita, retornamos para a Ruta 9. O passeio acresceu uns 6 ou 7 km ao trajeto.

Na Ruta 9, logo depois do parque, surge a estranha pista de emergência para aterrisagens: um trecho de alguns quilômetros, na estrada, em que é proibido parar, pois está destinado a eventuais pousos de aeronaves em situação de necessidade. Ainda bem que não presenciamos seu uso! rsrsrs...

E, loguinho, estávamos na entrada de Barra do Chuy (a praia/balneário), a 4 km do Chuy... 2 km mais adiante, a aduana. CHEGAMOS!

Na aduana uruguaya, dois simpáticos funcionários nos atenderam. Ficamos um tempo conversando, um deles super interessado nas bicicletas, no pedal, nos equipamentos. Nos contou que tinha uma Trek, e que também pedalava! Interessante como encontramos pessoas ligada ao mundo das bikes, ao longo desses últimos dias... Há uma revolução em curso, no mundo! rsrsrsr

Mais 2 km pedalados, e depois de 84 km, a fronteira com o Brasil se apresentou... Em terra brasilis, estava cumprida a missão! Foram 1.181** km pedalados, ao longo de 7 dias, além de 3 outros de descanso.

O que dizer? Faltam palavras, neste momento. A experiência foi enriquecedora, de uma maneira difícil de descrever... Pessoas, fatos, paisagens, movimentos, sentimentos, energias, tudo mesclado em uma combinação peculiar, única...

A bicicleta nos permitiu viver o mundo com uma intensidade improvável... E isso basta para que tenha valido a pena!

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