quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Let's go outside!!


Lição da viagem: "Limitações só existem em nossas mentes."

A navegadora e o oráculo


Sou a navegadora. Sempre fui! Adoro mapas, tenho uma sinergia com eles... Em todas as viagens, defino trajetos, traço rotas, encontro-me nas ruelas das cidades e nas estradas que as ligam. Tenho o hábito de comprar mapas de todos os lugares por onde passo (aliás, nesta viagem foi um verdadeiro sacrifício ficar sem eles, que representariam, a cada novo puerto, peso a mais! rsrs). Compreendo-os com exatidão, raramente me perco, minha localização no espaço geográfico a partir de sua síntese em um plano geralmente é muito boa. Tanto assim que, nas corridas de aventura que virão, a equipe já sabe que essa função é minha, serei a responsável pela orientação, ninguém discute!! Rs...

Pois bem... acontece que essa relação deu-se, sempre, de modo tradicional, com as versões impressas e a serem interpretadas. A magia das rotas estava em minhas mãos! rsrsrs... Até que, há pouco tempo, compramos um gps, para bikes e trail runs de maior distância, em terrenos inóspitos (costuma ser exigência da organização...). E o tal do aparelhinho passou a fazer suas previsões: trajetos ideais, distâncias, tempo do percurso, lugares úteis nas proximidades... Ou seja: tirou a magia de minhas mãos!

Apelidei-o de oráculo. Pelo menos sou a responsável por carregá-lo e consultá-lo. Durante a viagem, quando surgia alguma dúvida sobre para onde seguir, eu parava e dizia, em tom grave: "Vamos ver o que diz o oráculo...".

E tenho que reconhecer: ele foi bastante útil e deu informações geralmente confiáveis, mesmo quando não acreditávamos. Como quando deveríamos decidir sobre como ir de Punta del Este a La Paloma, e ele dizia "ruta 9, ruta 9" (programado que estava para seguir somente estradas asfaltadas), enquanto havia, no mapa impresso, a ruta 10, mais curta, pelo litoral, supostamente asfaltada... Seguimos pela ruta 10 e o resultado é conhecido: lá estavam os 11 km de estrada de chão... O oráculo estava certo!! Rsrsrs...

Claro que ele não é assim tão preciso, e as vezes dá sugestões erradas. Nessas circunstâncias, nada como o recurso a um bom e velho mapa.

Além disso, com suas informações objetivas, não poderia prever que, as vezes, seguir pelo caminho diverso pode ser muito mais prazeroso, como foram os tais 11 km fora de ruta...

Então, conservo ainda um certo poder! Como me apossei dele, sou o canal de comunicação com o universo das previsões... Por enquanto, o domínio de suas funções é meu, me cabe interpretar e avaliar seus erros e acertos, bem como recorrer ao método tradicional, se necessário!

O problema é que o Alex, no último dia de viagem, resolveu começar a aprender... furtivamente, retirou o oráculo de seu pedestal e começou a consultá-lo, tentando decifrar sozinho suas mensagens. Chegou ao ponto de me perguntar como acessar alguns recursos!! Acho que terei de rever algumas coisas: o manual deverá ser queimado e as baterias guardadas em local incerto e não sabido! Tudo em nome da magia!

Ele pode ser o oráculo, mas eu ainda serei a navegadora! Em último caso, pelo menos a fotógrafa! Rsrs...

Informações

Espero que o tempo não tenha apagado de minha memória as informações mais relevantes sobre os dois últimos trechos...rsrss... Seguem elas:

Trecho 8: Punta del Este - Castillos (percorridos em parte pela ruta 10, até José Ignácio, e em parte pela ruta 9) - 154 km. Posto de combustíveis: km 10 (La Barra); km 37 (entrada de José Ignácio); km 85 (entorno de Rocha, principal cidade da região), km 120; entorno do km 150 (Castillos, pequena cidade à beira da estrada com 1 - só 1 - hotel, mercado e alguns restaurantes)! Bares: km 78 (um parador, tipo restaurante). Estrada vazia.

Trecho 9: Castillos - Chuy - 84 km (com entrada no parque Santa Teresa - cerca de 6 ou 7 km menos, se o trajeto for direto pela ruta 9). A estrada é um pouco mais povoada que no oeste, mas ainda assim pouco. Não há muita coisa, mas o trecho é pequeno. Cerca de 40 km antes do Chuy, começam a aparecer alguns bares. 20 km antes, já há vários pontos para abastecimento, e também pelo menos dois hotéis. Posto de combustíveis, somente no Chuy.

El regalo






Lição de hoje: "Partir é bom, transitar é fantástico, mas retornar também tem seu encanto..."

Frase do dia: "Hoje vai ser um passeio!" (A)

Em Castillo, o clima já era de missão cumprida. Sem muita preocupação com dormir cedo, ou com horário de partida, fui até tarde lutando contra o pc para postar o relato do dia anterior... Internet lenta, teclado terrível, fotos que levavam zilhões de anos para serem anexadas... Mas tudo bem!

O Alex pretendia dormir até quando o corpo pedisse, mas meu lado metódico não permitiu: "Nada disso, vamos acordar lá pelas 8, não quero sair muito tarde!". As 7 horas, eu estava acordada, e fiquei esperando a parceria...rs...

O café foi espartano: medialunas e café preto! Ainda bem que eu havia comprado umas frutas, no dia anterior, não vivo sem vegetais in natura! rsrs... Calmamente, tomamos o café, depois arrumamos as coisas e partimos, por volta das 9h30min.

A estimativa era de percorrer entre 70 e 80 km, um nadinha (rs), o único trecho menor de 100 km... Logo na saída da cidade, o Alex disse: "Vai ser um passeio!" E foi!

O dia estava simplesmente maravilhoso, um verdadeiro regalo para o último dia de viagem. Temperatura super-amena, até passei frio por uns bons quilômetros, e um sol que deixava o céu com um azul intenso.

Tendo pouco a percorrer, meu lado fotomaníaca falou mais alto: a cada paisagem interessante, eu parava para o registro. Realmente adoro fotografia, pena que numa viagem dessas não dá para levar uma máquina maior...rsrs... Ainda assim, algumas imagens ficaram bem legais!

O trajeto voltou a ser super-plano, mais até que no dia anterior (onde as ondulações já haviam diminuido muito). Um retão sem fim, que dá a estranha sensação de não saber se você está realmente no plano, ou subindo, ou descendo levemente...rsrs... O vento tinha diminuído muito, e estava contra, mas não representou obstáculo, o pedal fluia em velocidade boa, mas não exagerada... O negócio era curtir o trajeto, sem muita preocupação com a chegada.

Eu pretendia entrar em Punta Diablo, uma praia bem legal, mas quando passamos pelo trevo, vimos que haviam terminado, há pouco, de colocar asfalto, e a estrada estava, toda, coberta de britas, o que dificultaria muito pedalar até lá. Assim, desistimos e seguimos adiante.

As emas, que se haviam apresentado nos primeiros dias, na região mais plana a oeste, pampa, voltaram à paisagem no pampa leste: lá estavam elas, em bandos, coisa que já é difícil de ver por aqui... E muitos coqueiros, perdidos no pasto, com cavalos correndo, formavam um quadro bucólico...

Havia, também, muito gado, mas isso aconteceu ao longo de toda a viagem. E uma coisa muito peculiar, a seu respeito, era o interesse que os animais demonstravam pelas bicicletas... Normalmente, quando se passa de carro por um rebanho, não há nenhuma alteração: continuam eles em sua posição habitual, cabeças baixas, a pastar. Mas, passando de bike, todos, mas realmente todos, levantavam e ficavam nos observando!

Ver o mundo passar lentamente nos dá outra percepção da paisagem...

No quilômetro 44, chegamos ao Parque Santa Teresa, onde fica o Forte Santa Teresa. O lugar é realmente fantástico, há uma série de trilhas que levam a zonas de camping, de piquenique, um pequeno zoológico e praias. Aquela altura, o pedal sob os coqueiros e outras árvores (um verdadeiro bosque) foi muito bom, garantia uma sombrinha praticamente inexistente em todo o restante do trajeto (assim é o pampa, vocês sabem... nada de grandes árvores!). Circulamos calmemente pelo parque e paramos na Playa La Moza, em um mirante que ficava entre duas enseadas... Um lugar fantástico para nossa super-refeição: torradinhas, castanhas, passas e suco! rsrsrsrsr... Foi, certamente, o melhor almoço da viagem!

Alimentados, seguimos em busca do Forte Santa Teresa, que nos aguardava no alto de uma pequena colina próxima. Tanto espanhóis como portugueses sabiam bem onde construir suas fortificações: a vista é sempre muito privilegiada! E o Santa Teresa não foge à regra.

Foi muito bonito chegar, vendo o contraste entre o ocre dourado da antiga construção, o verde da vegetação e o azul intenso do céu. Paisagem para não ser esquecida!

Visita feita, retornamos para a Ruta 9. O passeio acresceu uns 6 ou 7 km ao trajeto.

Na Ruta 9, logo depois do parque, surge a estranha pista de emergência para aterrisagens: um trecho de alguns quilômetros, na estrada, em que é proibido parar, pois está destinado a eventuais pousos de aeronaves em situação de necessidade. Ainda bem que não presenciamos seu uso! rsrsrs...

E, loguinho, estávamos na entrada de Barra do Chuy (a praia/balneário), a 4 km do Chuy... 2 km mais adiante, a aduana. CHEGAMOS!

Na aduana uruguaya, dois simpáticos funcionários nos atenderam. Ficamos um tempo conversando, um deles super interessado nas bicicletas, no pedal, nos equipamentos. Nos contou que tinha uma Trek, e que também pedalava! Interessante como encontramos pessoas ligada ao mundo das bikes, ao longo desses últimos dias... Há uma revolução em curso, no mundo! rsrsrsr

Mais 2 km pedalados, e depois de 84 km, a fronteira com o Brasil se apresentou... Em terra brasilis, estava cumprida a missão! Foram 1.181** km pedalados, ao longo de 7 dias, além de 3 outros de descanso.

O que dizer? Faltam palavras, neste momento. A experiência foi enriquecedora, de uma maneira difícil de descrever... Pessoas, fatos, paisagens, movimentos, sentimentos, energias, tudo mesclado em uma combinação peculiar, única...

A bicicleta nos permitiu viver o mundo com uma intensidade improvável... E isso basta para que tenha valido a pena!

sábado, 7 de novembro de 2009

Off Road


Licao do dia: "O bom da vida é que os planos podem ser refeitos!"

Frase de hoje (duas):
"E por ali sao 11 km de estrada de chao!" (A)
"Nao é que o oráculo estava certo?" (S) (voces enderao mais tarde,quando eu falar sobre o oraculo...

E nao é que, já no final da viagem, ganhamos o dia perfecto?

Pois entao… como eu tinha dito anteriormente, acordei de madrugada com o forte vento. Depois do amanhecer, durante o café, ainda nao sabiamos como seria, mas nao confiavamos em nada muito bom… A boa notícia é que estava frio e nublado.

Mas logo na partida ja tivemos uma boa impressao: o vento, um pouco lateral, e forte, estava ajudando!

Pedalamos a beira mar em um belìssimo trajeto, seguindo pelo norte de Punta del Este, passando pelas praias de aguas revoltas, com todo aquele vento, passando por La Barra e rumando para José Ignacio…

O vento so melhorou! Tinhamos, entao: forte vento a favor (sudeste), as vezes um pouco lateral, frio e sem sol!

Saimos um pouco as cegas. Acontece que, no mapa quatro rodas,nao havia nenhuma estrada ligando Punta del Este a La Paloma; o GPS tambem indicava seguir pela estrada principal, Ruta 9,que liga Montevideo ao Chuy, e nao pelo litoral (beira-mar); mas tinhamos outro mapa,uruguayo,e tambem informacao de um atendente do hotel,de que havia a ruta 10, beira-mar,so que nao dava para chegar em La Paloma, por causa de uma baia… seria preciso fazer uma volta, antes de chegar em Jose Ignacio, saindo em directo a Ruta 9 e depois voltando…

Com essas informacoes, seguimos pelo litoral, ruta 10. Como disse, estrada belíssima,costeando as aguas… Ate que chegamos em Jose Ignacio, no empalme (trevo) que levava ao vilarejo, 37 km rodados, e paramos em um posto ANCAP. Enquanto fui ao banheiro, o Alex perguntou pelo caminho… Quando cheguei, ele disse: “Da para ir por ali, tem uma balsa que leva ate La Paloma…só que sao 27 km de estrada de chao…” Eu pensei comigo mesma “nao dá… vamos ter que fazer a volta”, enquanto ele engatou: “E por aquí,sao 11 km de estrada de chao!!”!!. Ou seja: nao tinhamos muita alternativa. Voltar (cerca de 20 km) era algo impensable, seria contra o forte e aumentaria o trajeto em uns 40,50 km… O negocio era fazer, de speed, um off road!

Escolhemos o trecho menor, de 11 km, e nos tocamos! O legal foi que,mesmo de chao,a estrada estava ótima, e foi praticamente só nossa, vazia! E o ventao a favor, cegamos a 27 km/h nela, acreditam?

Logo cegamos a ruta 9, e o vento so ajudando! No km 74, resolvemos parar e comer alguna coisa, mesmo sem sentir cansaco algum… E foi la que os planos mudaram!

EStavamos, como sabem, indo para La Paloma. Dariamos a volta na ruta 9, indo ate Rocha, depois voltando para a ruta 10, rumo ao litoral…Mas isso significava: 1) pegar o forte vento contra por uns 30 km,ate chegar a La Paloma; 2) que chegariamos meio tarde,talvez la pelas 17 horas, para ja ter que partir no dia seguinte; 3) que pouco aproveitariamos La Paloma, uma praia, ja que estava frio e que chegariamos no entardecer…

A primeira ideia foi: pedalamos ate Rocha, ficamos em um hotel, amanha vamos para o Chuy (faltariam uns 130 km…). Mas o pedal estava tao favorable, que mudamos novamente, e resolvemos seguir ate Castillos, cerca de 54 km adiante…Assim fizemos…

Estava tudo tao bom que,quando chegamos no km 100, era como se nao tivessemos pedalado praticamente nada…Alem das condicoes favoraveis do tempo,a ruta 9 esta bem boa,e quase nao tinha movimento.

Entramos na cidade de Castillos com 150 km pedalados, buscando por um hotel indicado no GPS. Andamos mais 4 km ate o centro… A cidade parece o velho oeste, tudo cheio de pó, super pequena… Mas foi bem legal chegar!

Imaginem so o contraste: num dia, em Punta Del Este, super-chique, vendo a Loja da Louis Vutton; no outro, em Castillos, procurando alguna venda onde pudessemos garantir o que comer! Rsrsrsr…. E tudo percorrido com nossas proprias pernas!

O pedal nos da a chance de ver os lugares de outro modo…e nos permite chegar a lugares nunca antes pensados… de que outro modo estariamos aquí? Nunca seria uma escolha… Mas aconteceu! E é muito legal poder ver as pessoas...

O hotel,embora pareca assustador por fora (rsrsr), é muito bom! Lembramos, inclusive, de nossa chegada em Chillán, no Chile, em maio…rsrsrs…Encontramos um mercado,temos provisoes, e amanha seguiremos rumo ao Chuy!

Pedalamos, hoje,154 km…com isso,cortamos umdia de viagem, faltam aproxidamente 70 a 80 km para o Brasil! A ideia é chegar por la amanha, dar uma passeada, e voltar para casa segunda!

Nos esperem com uma grande salada!! SEM AMIDO! rsrsrsr

Cidades - Salto

Rafael Faciolli




Como já falei antes, conhecemos o Rafael em uma cidade a uns 30 km de Montevideo, em sua peculiar loja ciclistica. Vale a pena conferir,quando passarem por lá! Pena que, de bike, nao podíamos levar muita coisa...rsrsr.... Ah, e aguardamos o pedal brasiguaio (ja que ele também pedala)! rs